Por Wellington Bahnemann e Luciana Collet
São Paulo, 31/07/2020 – Com os reservatórios das principais hidrelétricas em situação confortável e com a carga de energia em um ritmo de recuperação ainda lento, comercializadoras trabalham com um cenário de estabilidade no valor médio do preço de liquidação das diferenças (PLD) no mês de agosto. “Não há hoje nenhum elemento que esteja forçando o PLD para cima em agosto”, afirmou o head de Middle Office da Go Energy, Arthur Coletto. Atualmente, o indicador em R$ 93,25/MWh no Sul, Norte e Sudeste.
Em agosto, a expectativa das comercializadoras e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é de um tempo mais seco, o que se traduz nas afluências (volume de água que chega nos reservatórioso) previstas para o mês. Segundo o operador, a afluência do Sudeste/Centro-Oeste deve ficar em 73%, no Sul, em 70%, no Nordeste, em 66%, e no Norte, 87%, o que é comum para está época do ano, marcada pelo período seco.
O gerente de Research da Capitale, Franco Tumelero, disse que as afluências de agosto estão em níveis próximos aos de 2018, quando, na ocasião, o PLD chegou a ficar no valor máximo estabelecido para aquele ano, de R$ 505,18/MWh. Na ocasião, porém, os níveis de armazenamento nas principais hidrelétricas eram menores, o que também gerava pressão de alta para os preços de curto prazo da energia.
De fato, os reservatórios do submercado Sudeste/Centro-Oeste, considerado a caixa d’água do setor elétrico por representar 70% da capacidade de armazenamento do País, estão em 48,43% da capacidade total, o melhor nível deste 2016. O Nordeste, por sua vez, está com 82,1% de armazenamento, o patamar mais elevado dos últimos sete anos. O Sul, que estava em situação crítica entre maio e junho, hoje já está com 59,01% do total, em que pese a trajetória de declínio.
Coletto acrescentou que o mês deve marcar a continuidade de recuperação da carga de energia, puxada pela demanda da região Sudeste/Centro-Oeste. O executivo trabalha com a expectativa de que a carga cresça em torno de 2 mil MW médios no período, alcançando algo próximo a 66 mil MW médios no começo de setembro.
A despeito de uma sinalização de melhora do consumo, com siderúrgicas, por exemplo, indicando retomada de produção em agosto, e da previsão de afluências abaixo da média histórica para o mês, os profissionais descartam a possibilidade de um aumento no PLD ao longo de agosto. Tumelero, da Capitale, trabalha com uma perspectiva de valores entre R$ 80/MWh a R$ 110/MWh, a depender do comportamento efetivo das chuvas. “Não devemos ver um crescimento explosivo, acima de R$ 150/MWh”, comentou.
A tendência para a Go Energy é de que o PLD para os submercados Sul, Sudeste/Centro-Oeste e Norte também fiquem na faixa de R$ 90/MWh e R$ 100/MWh. Coletto disse que os valores podem vir um pouco menor a depender do registro de chuvas no final do mês por conta de duas frentes frias no Sul do País, com possibilidade de atingir alguns trechos do Sudeste. “Mas, atualmente, não estamos considerando que essas chuvas vão encaixar agora, e que isso fique mais para o começo de setembro”, ponderou.
Um pouco mais otimista, a comercializadora Argon Energia trabalha com um cenário de PLD para esses três submercados na faixa de R$ 80/MWh a R$ 85/MWh. Para o diretor da companhia, Moacyr Carmo, a formação de preços em agosto se beneficia do fato de julho ter sido chuvoso, especialmente nas regiões Sul e Norte. “O PLD deve ficar comportado em agosto, porque ainda tem reflexo do cenário visto em julho”, afirmou.
Coletto comentou que um ponto que o mercado deve ficar atento ao longo de agosto é a estratégia de uso dos reservatórios do Sul pelo ONS. Com a hidrologia da região muito desfavorável este ano – a pior em quase 100 anos – e a perspectiva de uma La Niña a partir de setembro, o que tende a torna o clima mais seco no Sul, o executivo avaliou que o operador pode ser mais conservador no uso das usinas da região.
“Pode ser que, por conta disso, o ONS use mais os reservatórios do Sudeste, o que mudaria as configurações de partida do sistema para setembro. Mas ainda é uma tese que precisa ser monitorada para verificar se vai ocorrer, porque o ONS não deu nenhuma indicação sobre na reunião do PMO”, afirmou.
PLD no Nordeste
Todas as comercializadoras ouvidas pelo Broadcast Energia trabalham com a perspectiva de manutenção do descolamento de preços entre as três regiões e o Nordeste. Além do nível elevado dos reservatórios, este submercado se beneficia do aumento da produção de energia eólica, que deve atingir o seu pico entre os meses de agosto a outubro.
Neste sentido, Moacyr Carmo projetou que o PLD médio no Nordeste deve ficar em torno de R$ 5/MWh a R$ 10/MWh mais baixo do que o previsto para os demais submercados, o que, nas suas costas, faria o indicador cair para uma faixa de R$ 70/MWh. Vale lembrar que o ONS informou ontem que pretende ampliar a exportação de energia do Nordeste para o restante do País, o que reforça o cenário mais acentuado de descolamento dos preços.
Fonte: O Estado de S. Paulo
31.07.2020